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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Filme: Jurassic Park

A Velha História
Por Rodrigo Roddick


Infelizmente é muito comum hoje em dia nos depararmos com notícias relacionadas a morte de animais porque um ser humano cruzou seu caminho, ou porque foram maltratados por eles, ou até mesmo porque o homem criou algum tipo de construção industrial que tornou o habitat impróprio para as espécies que vivem ao redor. Nessas circunstâncias, muitas pessoas não discutem a mensagem velada, o que vem subliminarmente revelado nesses atos: a superioridade do homem para com a natureza.

Jurassic Park (1993), de Steven Spielberg, discute principalmente a ilusão de domínio que o homem exerce (ou acha que exerce) sobre a natureza, e narra os desdobramentos dessa situação.

Velociraptor
O filme começa com um acidente envolvendo um velociraptor e um funcionário do Jurassic Park, que é morto quando tentam transferir o animal para sua nova moradia. Em seguida mostra a descoberta de uma ossada fossilizada de velociraptor pelo paleontólogo Alan Grant, mas que é atrapalhada pela chegada de John Hammond, de helicóptero, jogando poeira sobre os ossos. Quando Alan procura o recém chegado para reclamar sobre o incidente, descobre que está diante de seu investidor, o homem que custeia as suas escavações. No mesmo momento ele e sua namorada, a paleobotânica Ellie Sattler, são convidados a se juntar a ele, ao cientista Ian Malcolm e o advogado Donald Genaro, para visitarem um parque temático na Ilha Nublar, que fica no litoral da Costa Rica. Lá eles descobrem que as atrações do parque são dinossauros e ficam espantados diante da eventualidade peculiar. Juntamente com os netos de John Hammond, a equipe inicia uma visita nas dependências do Jurassic Park.
Donald Genaro representa o grupo de investidores que apoiam o projeto de John que, por causa do acidente com o funcionário, resolvem inspecionar o parque na procura de possíveis falhas de segurança. Para que o laudo tenha credibilidade diante dos investidores, é necessário que as autoridades na área endossem o documento, e por esse motivo, Ian, Alan e Ellie são convidados a visitar o parque.

A questão principal que se apresenta no filme é: homens e dinossauros poderiam conviver juntos, hoje? A resposta foi bem óbvia.

Cena retirada do filme que demonstra a resposta da pergunta: dinossauros e o homem, juntos?

Os dinossauros são animais que foram extintos no final do período cretáceo por causa, dentre muitas teorias, do impacto de um cometa ao planeta. Naquela época não existia sombra do aparecimento do homem na Terra, que surgiu há cerca de um milhão de anos, ganhando uma distância de tempo considerável dos “dinos”, aproximadamente 150 milhões de anos. Mas, dentro do ambiente fictício de Jurassic Park, essas duas raças foram postas juntas. É claro que, quando John Hammond, pensou em trazer de volta os dinossauros, ele não pretendia forçar uma convivência literal entre as duas raças, mas, de acordo com as opiniões divergentes apresentadas no filme, o homem sempre tem a ilusão de que pode controlar a natureza.

Esta cena ícone é uma metáfora sobre o homem comercializar a natureza; embalá-la e vendê-la.

Essa questão já começa a ser discutida logo de início quando os personagens descobrem a existência de dinossauros em pleno século XX, mas quando eles conhecem as instalações do parque e se encontram com a equipe de geneticistas, ela ganha mais corpo. É manifestado no filme, através de um geneticista, que os dinossauros, ao nascerem, são originalmente fêmeas, mas que ao receberem um hormônio extra, se tornam machos. Para impedir que eles se reproduzissem descontroladamente na Ilha Nublar, os geneticistas impedem que esse hormônio extra aja no embrião, ocasionando o nascimento de dinossauros apenas do sexo feminino. Ian Malcolm questiona o geneticista dizendo que o homem não deveria brincar com esse poder (o poder da criação) e que deveriam considerar o a imprevisibilidade que seus atos podem desencadear, o que ele chama de Teoria do Caos.

Ian personifica o pensamento filosófico do homem em avaliar se determinada descoberta deve ser realmente realizada, pois as implicações que ela traz pode desencadear acontecimentos catastróficos. O exemplo visto no filme é que obviamente um grupo só de fêmeas não poderia se reproduzir sozinha, entretanto Ian afirma, e assim construindo sua célebre frase, que a vida encontra um meio.

braquiossauros e estegossauros.

Em um almoço que o dono do Jurassic Park, o advogado e as três autoridades conhecidas realizam antes de visitarem o lugar, eles discutem essas implicações, decorrente do ato de trazer os dinossauros para conviver com o homem. Mais uma vez Ian diz que John se preocupou tanto em conseguir tecnologia para trazer os dinossauros a vida que não se perguntou se devia fazer isso. Por quê? Os dinossauros são uma raça que foram extinta naturalmente, não pela intervenção do homem, portanto não eram para eles existirem hoje, mas o homem perverte o curso natural ao determinar que eles voltariam. Ele não deveria mexer com o poder da natureza, pois não compreende e não conhece seus mistérios. Outra vez é destacado o pensamento embutido no filme: a superioridade do homem diante da natureza.

Cena em que Alan, Ellie e Ian se deparam com um dinossauro pela primeira vez

Hoje em dia vemos isso com frequência. As árvores podem ser destruídas para virar móveis e papel, os animais podem ser caçados para comer e virar roupas, mas o homem não! O homem tem que viver! Porque tudo que existe foi feito para ele usar... Não é bem assim. Essa é apenas nossa atitude, mesmo sem acreditarmos ou nos darmos conta dela. O homem se acha maior que todas as demais manifestações naturais, mas sequer pensa sobre o equívoco de seus pensamentos, afinal uma árvore vive 800 anos em média, os animais possuem atributos (presas, garras, asas, barbatanas, caudas) superiores aos do homem, e os mares, montanhas, sol e ar independem da existência humana. O homem é realmente superior?

Todos esses questionamentos nos fazem analisar sobre o nosso comportamento diante da natureza e nos obriga a compreender que somos apenas parte de um sistema natural. E isso fica bastante evidente em uma frase de Ian Malcolm que eu considero a melhor do filme.

Dilofossauros
Ainda na cena do almoço, diante dos questionamentos contrários de Ian, John Hammond não entende como um cientista manifesta essas ideias, uma vez que cientistas realizam descobertas o tempo todo. A descoberta é a razão deles existirem. Ele manifesta sua incompreensão dizendo “como podemos – nós cientistas, o homem – estar a luz de uma descoberta e não agir?”, pergunta que Ian rebate respondendo que ele não entende a beleza que eles veem na descoberta, uma vez que ela é penetrante e deformadora... aí  nesse momento ele diz a melhor frase do filme, que o resume completamente: “o que você chama de descoberta, eu chamo de violação do mundo natural”.

Esta frase é a resposta para a questão realizada pelo próprio filme.



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