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sexta-feira, 13 de maio de 2016

Música: Saudade da Bahia

O Rico Pobre que Todos Desejam Ser
Por Rodrigo Roddick

O mundo foi construído para dar errado. As pessoas necessitam de suprimentos básicos (alimentos, água, moradia, etc) para continuarem vivas e, antigamente, elas conseguiam acesso a eles de maneira primária, cultivando ao solo que habitavam. Entretanto, os novos ideais transformaram esses suprimentos em mercadorias e obrigou as pessoas a consumirem-nas. Mas para que se possa consumir, deve-se ter o capital que, por sua vez, demanda a necessidade de trabalho. O mundo se resumiu a pessoas que dominam pessoas. Algumas detém poder sobre os meios de produção das mercadorias e acumulam capital, e as demais trabalham para esses proprietários para receber seu dinheiro e conseguir consumir, doando seu tempo de vida.

Observando o que se sacrifica no processo de trabalhar para um proprietário, as pessoas acabaram desejando ser como eles, detentoras dos meios de produção, para conseguirem que outras pessoas trabalhem para si e assim não precisarem trabalhar mais. A todo momento este estilo vem sendo incentivado pelo desejo dos trabalhadores tomarem o lugar dos proprietários. E enquanto continuam a pensar assim, o sistema se sustenta, a troco da vida das pessoas.

Com base nesse modelo que acerca a população, um sentimento de injustiça e revolta nasce naquelas pessoas que enxergam com clareza como o sistema é constituído, mas sentem-se impotentes contra uma massa que está adormecida, realizado justamente o que o sistema manda. Uma pessoa nadando contra a maré.

Diante desse cenário, um exemplo que ilustra esse sentimento é a música Saudade da Bahia, de Dorival Caymmi. Segue letra comentada abaixo.

Compositor: Dorival Caymmi



Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia,
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia:
Bem, não vai deixar a sua mãe aflita,

É possível perceber o reconhecimento de como a vida simples era mais justa do que a urbana; metaforicamente aborda a narração de uma pessoa que deixa o interior para ir a cidade grande trabalhar e “melhorar de vida”, ou seja, seguir os ideias dos proprietários do sistema.

A gente faz o que o coração dita,

Alusão ao desejo do ser humano, mas que aqui apresenta a dúvida: esse desejo de ir a cidade grande e crescer é realmente dele? Ou será uma influência "massiva" do sistema?

Mas este mundo é feito de maldade e ilusão.

O mundo, abordado nesse verso, se trata do sistema capitalista, que só conhece o crescimento financeiro, o acúmulo de capital, o trabalho árduo, a qualquer custo. Passando por cima das individualidades e da natureza que compõe o ser humano.

Ai, se eu escutasse hoje não sofria,
Ai, esta saudade dentro do meu peito,
Ai, se ter saudade é ter algum defeito
Eu pelo menos mereço o direito
De ter alguém com quem eu possa me confessar.

Nesta estrofe entende-se que, já que as pessoas não podem mudar esse estilo de vida e nem conseguem voltar ao que viviam antes, ao menos têm o direito de expressarem sua insatisfação, o que também pode ser entendido como liberdade de expressão ou o fazer artístico.

Ponha-se no meu lugar
E veja como sofre um homem infeliz,
Que teve que desabafar
Dizendo a todo o mundo o que ninguém diz.

Um convite é realizado às pessoas que não enxergam essas disparidades, para que elas percebam que é como a personagem, fazê-las enxergar o que relutam a ver.

Veja que situação
E veja como sofre um pobre coração,

Pela aproximação das circunstâncias entre as pessoas, tenta-se indicar o quanto de nós é perdido para os outros (sistema), tudo isso pela continuidade do modelo social presente.

Pobre de quem acredita
Na glória e no dinheiro para ser feliz

Inversão do valor de rico e pobre, colocando o pobre coma a típica pessoa que encontra sua felicidade no ambiente financeiro. Na verdade, isso é discutido na música, pois essa felicidade no dinheiro é apontado como algo não pertencente ao desejo real das pessoas, mas sim construídos dentro delas pelos interesses de quem está por cima no sistema, de que detém o domínio dele.



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