O Rico Pobre que Todos Desejam Ser
Por Rodrigo Roddick
O mundo foi construído
para dar errado. As pessoas necessitam de suprimentos básicos (alimentos, água,
moradia, etc) para continuarem vivas e, antigamente, elas conseguiam acesso a
eles de maneira primária, cultivando ao solo que habitavam. Entretanto, os
novos ideais transformaram esses suprimentos em mercadorias e obrigou as
pessoas a consumirem-nas. Mas para que se possa consumir, deve-se ter o capital
que, por sua vez, demanda a necessidade de trabalho. O mundo se resumiu a
pessoas que dominam pessoas. Algumas detém poder sobre os meios de produção das
mercadorias e acumulam capital, e as demais trabalham para esses proprietários
para receber seu dinheiro e conseguir consumir, doando seu tempo de vida.
Observando o que se
sacrifica no processo de trabalhar para um proprietário, as pessoas acabaram
desejando ser como eles, detentoras dos meios de produção, para conseguirem que
outras pessoas trabalhem para si e assim não precisarem trabalhar mais. A todo
momento este estilo vem sendo incentivado pelo desejo dos trabalhadores tomarem
o lugar dos proprietários. E enquanto continuam a pensar assim, o sistema se
sustenta, a troco da vida das pessoas.
Com base nesse modelo que
acerca a população, um sentimento de injustiça e revolta nasce naquelas pessoas
que enxergam com clareza como o sistema é constituído, mas sentem-se impotentes
contra uma massa que está adormecida, realizado justamente o que o sistema
manda. Uma pessoa nadando contra a maré.
Diante desse cenário, um
exemplo que ilustra esse sentimento é a música Saudade da Bahia, de Dorival Caymmi. Segue letra comentada abaixo.
Compositor:
Dorival Caymmi
Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia,
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia:
Bem, não vai deixar a sua mãe aflita,
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia:
Bem, não vai deixar a sua mãe aflita,
É
possível perceber o reconhecimento de como a vida simples era mais justa do que
a urbana; metaforicamente aborda a narração de uma pessoa que deixa o interior
para ir a cidade grande trabalhar e “melhorar de vida”, ou seja, seguir os
ideias dos proprietários do sistema.
A gente faz o que o coração dita,
Alusão ao
desejo do ser humano, mas que aqui apresenta a dúvida: esse desejo de ir a
cidade grande e crescer é realmente dele? Ou será uma influência "massiva" do
sistema?
Mas este mundo é feito de maldade e ilusão.
O mundo,
abordado nesse verso, se trata do sistema capitalista, que só conhece o
crescimento financeiro, o acúmulo de capital, o trabalho árduo, a qualquer
custo. Passando por cima das individualidades e da natureza que compõe o ser
humano.
Ai, se eu escutasse hoje não sofria,
Ai, esta saudade dentro do meu peito,
Ai, se ter saudade é ter algum defeito
Eu pelo menos mereço o direito
De ter alguém com quem eu possa me confessar.
Nesta
estrofe entende-se que, já que as pessoas não podem mudar esse estilo de vida
e nem conseguem voltar ao que viviam antes, ao menos têm o direito de
expressarem sua insatisfação, o que também pode ser entendido como liberdade de
expressão ou o fazer artístico.
Ponha-se no meu lugar
E veja como sofre um homem infeliz,
Que teve que desabafar
Dizendo a todo o mundo o que ninguém diz.
Um
convite é realizado às pessoas que não enxergam essas disparidades, para que
elas percebam que é como a personagem, fazê-las enxergar o que relutam a ver.
Veja que situação
E veja como sofre um pobre coração,
Pela aproximação das circunstâncias
entre as pessoas, tenta-se indicar o quanto de nós é perdido para os outros
(sistema), tudo isso pela continuidade do modelo social presente.
Pobre de quem acredita
Na glória e no dinheiro para ser feliz
Na glória e no dinheiro para ser feliz
Inversão do valor de rico e pobre, colocando
o pobre coma a típica pessoa que encontra sua felicidade no ambiente financeiro. Na verdade, isso é discutido na música, pois essa felicidade no
dinheiro é apontado como algo não pertencente ao desejo real das pessoas, mas sim
construídos dentro delas pelos interesses de quem está por cima no sistema, de
que detém o domínio dele.
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