Maturidade é a Inocência de uma
Criança
Por Rodrigo Roddick
Naturalmente
assim que chegamos ao mundo iniciamos o processo de crescimento, e à medida que
vamos crescendo acabados amadurecendo, algo que é incentivado pelos adultos que
nos acercam. Recebemos do mundo muitas interferências em nosso desejos pessoais
e sofremos uma educação que nos formata para o modelo que melhor se adequa a
sociedade, limitando nosso potencial de sermos pessoas vivas.
Exemplificando
esse pensamento, encontra-se a maior
obra existencialista do mundo, O Pequeno
Príncipe, de Antoine de Saint-Exupére. Em sua língua original francesa, foi
o livro mais vendido no mundo, ultrapassando 140 milhões de cópia; também se
trata da terceira obra literária mais traduzida no mundo; foi publicado em 220
idiomas e dialetos. O autor do livro também detém a autoria das aquarelas que
ilustram sua história.
Neste livro há uma discussão sobre os
valores invertidos que as pessoas assumem quando deixam de serem crianças e se
tornam adultas, que é pautada pelo encontro de um piloto de avião e uma criança
loura, o Pequeno Príncipe, que revela ter vindo de um pequeno planeta onde vive
sozinho com uma rosa. A ingenuidade da criança confrontada com o amadurecimento
do piloto suscita pensamos filosóficos que provocam a sabedoria. A história
também demonstra viagens metafóricas que o Pequeno Príncipe realiza, saindo de
seu planeta e visitando outros, sendo um deles a Terra.
A principal
dialética encontrada no livro é justamente a análise sobre o que as pessoas
perdem de si mesmas quando se tornam adultas. A educação que elas recebem dos
pais e da escola tende a criar um espaço na sociedade em que possam ficar.
Muito aplaudida e incentivada é a educação (para a qual sempre pedimos aumento
nas verbas para investimento), ela que sempre fornece um universo de
ferramentas para que as pessoas consigam trabalhar e construir suas vidas no
sistema que as governam. O problema é que, por meio desse caminho, são passados
ideais do próprio sistema, vetando as pessoas o seu poder de escolha e de seus
desejos e interesses pessoais. A educação ensina as pessoas a se tornarem
escravas do modelo social, que por sua vez, sustenta o sistema.
Trecho retirado do livro "O Pequeno Príncipe" |
A criança é um ser humano único e livre das
construções culturais que constituem a sociedade, mas aos adultos se encarregam
de destruir sua natureza ao edificá-las a imagem e semelhança deles. Desejam no
íntimo, serem substituídos. São peças que transformam outras vidas em peças.
Enquanto o ser humano se encarrega de aprender a ser um adulto de sucesso, ele
está matando sua criança interior e se impedindo de viver o que deseja viver,
para viver o que o sistema requer que ele viva.
As vidas das
pessoas são tomadas delas e os valores são todos invertidos. Quando antes, na
infância, se pensa no sentimento de se ter uma amizade, na alegria, nas aventuras
e na vida, agora, na idade adulta, se pensa em números. Tudo o que era sentido
antigamente agora é quantificado. Os adultos são como máquinas que existem
apenas para realizar pequenas operações que mantém o sistema funcionando, e
enquanto estão nisso, se esquecem de viver. Esquecem-se de quando eram crianças
e conseguiam construir um mundo a sua volta, para apenas sustentar este qual
encontraram e foram obrigadas a povoar.
Trecho retirado do livro "O Pequeno Príncipe" |
O Pequeno
Príncipe vive sozinho em um planeta pequeno, uma metáfora sobre o interior do
ser humano. Ele cultiva e cuida de seu planeta da melhor maneira que o agrade e
que o deixe com a sensação de estar em casa. Ao deixar sua casa e visitar
outros planetas, vê-se subscrito quando uma pessoa conhece novas pessoas, pois
cada uma delas é um mundo diferente. A Terra é o símbolo metafórico que
representa, ao invés de pessoas como os outros planetas, o próprio sistema que
adotamos em sociedade. Aqui, ele se confronta com seus verdadeiros pensamentos
adversos.
Em seu mundo
ele tinha apenas uma rosa, qual era a amiga dele, por isso ele cuidava bastante
dela, mas na Terra ele vê como existe uma imensidão delas. Ele acaba refletindo
que o que faz a rosa dele ser especial é o tempo que ele gatou para se dedicar
a cuidar dela, tornando-se sua amiga. Mais tarde ele conhece uma raposa que lhe
ensina a lição que é preciso cativar alguém e ser cativado por ela para torná-la
única.
Trecho retirado do livro "O Pequeno Príncipe" |
A pessoa se
torna única porque cria-se um laço com ela. Um laço que amarra os dois e o
tornam um. Amizade é o amor que um tem pelo outro.
Trecho retirado do livro "O Pequeno Príncipe" |
No cotidiano
terráqueo, as pessoas dão valor a coisas materiais, coisas que enxergam e são
palpáveis, mas, para o que é mais importante, estão cegos. O trecho do Pequeno
Príncipe que diz “é só com o coração que conseguimos ver de verdade, o
essencial é invisível aos olhos”, revela para o quê devemos dar valor e como
devemos enxergá-lo: são os laços criados entre as pessoas, os sentimentos, o
amor.
Trecho retirado do livro "O Pequeno Príncipe" |
Neste livro,
observa-se a presença de constante de mensagens e cenários metafóricos que são
ricos para uma profunda análise e entendimento do seu eu, a criança interior,
que resiste a cada dia se tornar o adulto que o mundo pede, e crescer com sua
verdade como a natureza pede. Inúmeros são os aprendizado que se pode extrair
dessa leitura, mas o mais importante é reconhecer que cada um de nós somos um
mundo e, apenas passamos a visitar outros, quando nos abrimos sinceramente para
isso.
Não deixemos
nossa criança interior definhar e morrer em detrimento do adulto que a
sociedade espera que nos tornemos. Afinal, o governante de nossos planetas somos
nós. Nós somos o pequeno príncipe de nosso mundo.
Trecho retirado do livro "O Pequeno Príncipe" |
O Pequeno Príncipe trata de recuperarmos nossa
autonomia original há muito perdida.
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