Títulos Afundam com o Navio
Por Rodrigo Roddick
Em
1997 estreou o filme mais bem sucedido e de maior bilheteria sobre o naufrágio mais famoso do mundo, o do RMS Titanic. Todos conhecem a história e muitos a
adoram pelo romance fictício que James Cameron produziu para enriquecer o
enredo de uma tragédia, sabendo usá-la, pois a partir de um fato ele o
transformou em uma obra-prima. Existe muito conteúdo a ser discutido neste
filme ganhador de onze Oscars.
O filme começa com um caçador de
tesouros em busca do diamante “O Coração do Oceano”. Em uma de suas explorações
aos destroços do navio, ele encontra um desenho de Rose DeWitt Bukater que foi
feito no dia da colisão do Titanic com o iceberg, em que ela estava usando o
colar com o diamante. Ao ser exibido na televisão, a sobrevivente, já muito
idosa, reconhece seu desenho e se encontra com o chefe da expedição Brock
Lovett no navio dele, onde compartilha sua experiência vivida no Titanic com a
equipe de busca.
A partir de sua narração, a história se
inicia e o filme passa exibir a imagem do fabuloso navio “inaufragável”
Titanic, onde Jack Dawson embarca por ganhar sua passagem de terceira classe graças
a sorte que teve em um jogo de pocker. A bordo do navio, ele conhece a
senhorita Rose DeWitt Bukater quando ela tenta se jogar no oceano, da popa. Ele
a convence a desistir do suicídio, mas são pegos em uma posição constrangedora
por um tripulante.
Rose vai agradecer Jack, no dia
seguinte, pela discrição dele ao confirmar a mentira que ela inventou para o
noivo, e acaba conhecendo mais sobre sua vida. Durante o transcorrer do filme,
Rose se apaixona por Jack por causa de seu estilo de vida, e inicia um romance
com ele, mesmo estando noiva de Caledon Hockley; obrigada a ser casar com ele
por sua mãe Ruth, para resolverem seus problemas financeiros.
O Titanic colide com o iceberg
justamente no dia (14 de abril de 1912) em que Jack desenha Rose vestindo o
colar de diamantes; também quando ela decide desembarcar com o rapaz para viver
com ele. O navio atrapalha os planos deles quando começa a afundar. Eles
encontram adversidades para embarcar em um bote e por isso ficam no Titanic o máximo
de tempo, até o momento que ele afunda completamente.
No oceano, eles ficam flutuando à
espera de que os botes retornem para salvá-los. Enquanto aguardam, Jack morre
de hipotermia, mas Rose é resgatada.
Rose Dawson Calvert morre velinha em
uma das cabines do navio de Lovett, após jogar “O Coração do Oceano” no mar. A
cena final é formada por ela jovem voltando ao navio e reencontrando Jack e as demais
vítimas do naufrágio.
O RMS Titanic deixou o porto de
Southampton às 12h15min de 10 de abril de 1912 e afundou completamente duas
horas e vinte minutos após a colisão, na madrugada de 15 de abril de 1912, levando
1514 pessoas à morte.
Se
apropriando do naufrágio mais famoso do mundo para escrever sua história, James
Cameron aproveitou o contexto histórico da época para agregar mais veracidade
ao romance fictício de Rose e Jack. O principal elemento que torna o enredo do
filme tão rico é a apresentação das classes sociais bem definidas.
O
navio é construído e dividido por classes. Os mais ricos e de mais alta classe
ficam com as cabines superiores do navio, as que são maiores e mais luxuosas,
ao passo que os menos favorecidos ficavam com as inferiores. Essa distinção
enfatiza a posição social que os passageiros possuem, deixando os ricos por
cima e os pobres por baixo. E os cômodos superiores impediam que uma pessoa
correspondente da terceira classe, por exemplo, visitasse os mesmos ambientes
que os da primeira classe.
Essa
estruturação social, embora seja fielmente retratado no filme, tem sua necessidade
confrontada quando o navio colide com iceberg, pois nesse momento não importou
quem era da primeira classe, condessa, da terceira classe, tripulante... Não importou
qual papel os personagens exerciam, pois todos afundaram juntamente com o
navio, afinal estavam todos no mesmo
barco.
Nitidamente
esse ditado popular revela a alusão com o estilo de vida que adotamos
atualmente. Vivemos em uma sociedade em que as pessoas valorizam os seus
“status” sociais, as posições que ocupam; presidente, faxineira, médico,
empresário, cozinheiro, atendente de telemarketing, etc. O filme nos faz
refletir: já que todos vamos morrer mesmo, por que sustentamos esses papeis
sociais?
Quando
se compreende que a posição pouco importa, já que somos todos iguais e vamos
todos morrer, fica mais fácil enxergá-la como o que elas são: títulos. E eles
são apenas ideias. As classes sociais são ideias que envelopam as pessoas,
vestindo-as para criar a alienação de seres inferiores e superiores.
Embora
o a sociedade no filme seja do início do século XX, o modelo social existe até
hoje, adequado a filosofia do capitalismo, onde quem tem maior poder aquisitivo
está no topo das classes sociais.
O
casal Rose e Jack são de realidades diferentes. Eles enfrentam muitas
dificuldades para continuarem juntos, demonstrando que o amor é o maior inimigo
do sistema, pois quando as pessoas se amam, pouco se importam pelas convenções que
os acercam. Colocando o amor nesse patamar, surge uma alusão aos sentimentos,
que devemos sentir e experimentar tudo o que quisermos na vida, pois é para
isso que estamos vivendo. Jack seria o modelo a ser seguido, um pessoa viva que
desafia o sistema que o envolve.
Uma
das cenas mais interessantes do filme é quando Jack Dawson está jantando com a
nata da sociedade. A mãe de Rose tenta diminuir o rapaz realizando perguntas pessoais
e fazendo afirmações que sinalizam a posição dele, mas ele faz um discurso
sobre o sentido da vida, “fazer valer a pena”, que é nada mais nada menos que
viver, movido apenas pelas idas e vindas da vida, “um meio de existência sem
raízes” como adjetivado por Ruth, a mãe de Rose.
Enquanto
as demais pessoas estão nos classificando para que consigam nos dominar,
podemos gastar nosso tempo de viagem aproveitando o que ela tem a oferecer,
pois quando o Titanic afundar, a viagem chegará ao fim e todos os passageiros vão para o fundo do mar com ele. Contudo, alguns morrerão
após terem vivido cada dia intensamente, mas os outros morrerão sem terem
vivido nenhum só dia.
Titanic
nada mais é que uma metáfora da nossa vida. O navio é a vida, os passageiros
são as pessoas vivas, o iceberg é o que finda a vida e o fundo do oceano é a
morte, para onde todos os passageiros do navio são destinados.
Conheça
mais sobre a história do RMS Titanic em “Titanic em Foco”.
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