Regresso da Vida Natural
Por Rodrigo Roddick
Desde que nos conhecemos por gente estamos vivendo e sustentado um sistema que nos obriga a reafirmá-lo a cada suspiro de vida que realizamos. Nos ligamos tão fortemente a ele pela nossa educação cultural que mal percebemos sua estrutura e finalidade. O capitalismo necessita do consumo desenfreado para existir (o que demanda trabalho, a ser pago com capital que será usado para consumir), que requer, na finalidade de se criar produtos, uma exploração extenuante dos recursos naturais, que são finitos. E ao esgotarmos, estamos tornando a Terra inóspita, o que pode ocasionar a extinção da vida em nosso pequeno planeta azul.
Um filme que retrata um exemplo do impasse que nos acerca é Avatar(2009), de James Cameron, onde se vê muitas analogias a respeito do nosso estilo de vida em relação com a natureza.
Sinopse:
Um
grupo de humanos, cientistas e militares, viajam para outro planeta, Pandora, e
passam a habitá-lo. Lá descobrem uma pedra cinza chamada “unobitaniom” que possui
grande valor financeiro, o que atrai uma empresa para minerá-la. Em Pandora,
esta empresa acaba se deparando com um impasse: este planeta era habitado pelos
“Na’vi” (hominídeos azuis de aproximadamente quatro metros de altura).
Eles
viviam numa árvore gigante que ficava em cima do maior depósito de “unobitaniom”
daquela região, portanto uma equipe de cientistas da mesma empresa tenta promover
uma aproximação amistosa com os “Na’vi” para lhes convencerem a transferir a
moradia para outro local.
Um
soldado americano aleijado, Jake Sully, é contratado para substituir seu irmão,
um cientista que era piloto de avatar, assassinado no início do filme. Por Jake
ser destemido, acaba sendo aceito na aldeia dos “Na’vi” e se apaixona pelos
seus costumes e estilo de vida, bem como por uma fêmea da espécie, Neytiri.
A
empresa fica impaciente em esperar que os cientistas consigam que os “Na’vi” deixem
a grande árvore e libera a equipe militar para expulsá-los de maneira violenta.
Eles conseguem destruí-la, mas, no processo, acabam matando muitos da espécie,
inclusive o grande líder da aldeia, Eytucan. Os “Omaticaya” ficam estarrecidos
e entram em guerra contra os humanos para defender a terra deles. Jake, ao
domar o enorme animal feroz indômito chamado Toruk Makto, consegue reunir os
clãs da raça e se defendem contra o ataque inimigo, vencendo a guerra e exilando
os invasores de volta à Terra. Apenas poucos deles são convidados a ficar, os
cientistas que ficaram do lado dos “Na’vi”.
Como em outros filmes “hollywoodianos”, observa-se o estilo de construção de roteiro padrão, onde um herói (americano, de preferência) consegue resolver um impasse que ninguém mais consegue. Em Avatar, porém, há uma ênfase na subjetividade do personagem Jake Sully, pois, por sua condição de paraplégico, subentende-se a ideia de que até um americano aleijado (com alguma deformidade, um americano incompleto) pode liderar povos hostis e resolver o problema que se apresenta.
Entretanto há muita coisa interessante a se considerar. No auge dos assuntos sobre aquecimento global, poluição, escassez de recursos naturais, Avatar proporciona uma análise sobre o que é mais caro ao ser humano, sua vida ou seu dinheiro? Claramente, o personagem principal é convencido de que a vida é uma corrente de energia que permeia todos os seres vivos e provém da comunhão com a natureza. Compreende que, no momento que os seres humanos cortam esse vínculo, estão se sentenciado à morte.
O filme mostra um paralelo entre o Planeta Pandora e a Terra, construindo a comparação de dois quadros: em uma aparece um lugar pouco tocado pela interferência humana, e no outro há bastante. Desse modo, as complicações que surgem inerentes ao toque da mão do homem ficam aparentes. O Planeta Terra é considerado um lugar condenado. E assim o é, pois como destruímos a natureza existente no planeta, a vida, acabamos por nos destruir no processo, afinal também somos natureza.
Enquanto a empresa (vinda da Terra, ou seja, mais uma vez uma analogia com a mente capitalista do ser humano) segue ambiciosa na busca pela pedra “unobitaniom”, os “Na’Vi” defendem a natureza, e esse antagonismo de ideias revela a inversão que existe nas mentes das pessoas: de acreditar que o dinheiro tem mais valor que a natureza. O filme demonstra que é exatamente o contrário, afinal o dinheiro é apenas uma ideia e, inexistente, na cultura dos nativos.
Um dos pontos muito interessante que enriquece a construção de valores do filme é a “tsahaylu”, a ligação neural que os “Na’Vi” ocasionalmente fazem com outros seres vivos, animais e vegetais. É uma clara analogia sobre a falta de conexão que o ser humano contemporâneo tem com a natureza, com a vida. Ao mesmo tempo que ignoramos a vida da natureza, não nos permitimos sermos maiores do que somos. Pois os “Omaticaya” se tornam um com a natureza quando se conectam a ela. Entendem que tudo que é natural jamais se separa, é tudo ligado, como se fosse um grande cérebro, o que é enfatizado no filme pelas “sinapses” que as árvores fazem uma com as outras.
“Eu vejo você” é uma das expressões que também remete grande valor, pois explica como nós, humanos, vivemos nossas vidas, conhecendo milhares de pessoas, mas sequer enxergando que elas existem. Não “vemos” essas pessoas porque estamos concentrados em valores supérfluos e ocupados na conquista de mais. Ao passo que os “Na’Vi” conhecem verdadeiramente o seu igual, entendendo realmente que são iguais. Nessa concepção se observa o verdadeiro propósito de existir uma aldeia no filme. Embora haja líderes, todos os integrantes dela são iguais. E isso é o oposto do estilo de vida que incentivamos, em que queremos ter um “status” para sermos maiores e melhores que as outras pessoas.
Existe muitos aspectos a serem considerados em Avatar, mas o melhor é observá-los enquanto assistimos ao filme, pois se fossem listados todos aqui, o texto seria um romance. Este filme é muito rico em analogias com a nossa vida cotidiana e nos remete a pensar sobre ela para que cheguemos a uma pesagem de valores. Será que tudo o que valorizamos em nossas vidas realmente tem valor? Ou apenas aceitamos o valor que os outros dão a essas coisas?
No geral, Avatar faz uma profunda viagem
ao interior do ser humano, buscando aquilo que existe de real em cada um de
nós: a vida e como a conduzimos. Viver
se trata exclusivamente do “COMO” viver, afinal todos nós somos conduzidos para
o mesmo destino.
Viste o site oficial de Avatar para ter acesso a mais conteúdo sobre o filme.
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