Autorreflexo
Por Rodrigo Roddick
Na
década de 60, os Estados Unidos passou por uma grave época de racismo. A
intolerância racial marcou esses anos com uma violência explícita
principalmente contra os negros. Imigrantes também não eram muito bem-vindos no
país, e temas como homossexualidade e diversidade sexual não eram discutidos
abertamente.
Não
foi à toa que em 1963, X-men surgiu. Seus criadores, Stan Lee e Jack Kirby,
observaram a necessidade de levantar tais questionamento sociais, intrínsecos
em seus superpoderosos personagens.
Depois
de muitos anos fazendo sucesso na mídia e nos lares dos fãs, as HQs viraram
filmes e a história passou a conquistar mais fãs. Atualmente nota-se que ela
está se encaminhando para outra vertente: livros.
Capa -Livro |
Em
“X-men - Espelho Negro”, escritor por Marjorie M. Liu, o grupo principal de mutantes componentes do X-men (Ciclope, Jean
Grey, Noturno, Vampira e Wolverine) acordam sem seus poderes e se dão conta que
estão em outros corpos que não os seus. Estão em corpos humanos. Diante dessa
situação, eles começam a procurar respostas de como isso lhes aconteceu e
descobrem que estão em um hospital psiquiátrico, e que os corpos que habitam
são de pacientes com algum problema mental. Receando que seus verdadeiros
corpos estão sendo habitados por essas mentes insanas, os X-men iniciam uma
jornada em busca deles antes que a situação fique pior.
Além
das costumeiras analogias em que X-men discute o preconceito com o diferente (o
que rege a saga), em Espelho Negro, se observa uma questão bastante contundente,
que parece ser uma vertente na qual se trabalha a cura desse preconceito: e se
o preconceituoso estivesse na pele do alvo do preconceito?
A
mudança de perspectiva, onde os cinco X-men trocam de corpos com pessoas comuns
remete ao destacamento dessa questão, possibilitando que o leitor se coloque no
lugar daquele, se for o caso, alvo de seu preconceito e então refletir como se
sentiria se recebesse todas aquelas manifestações de violência verbal e física
das quais eles são alvos diariamente. Não obstante, ainda constrói a imagem do
que aconteceria se esses discursos de ódio fomentados por pessoas
preconceituosas tivessem poder.
Realmente,
com a mudança de corpos, as mentes insanas são colocadas nos corpos dos
mutantes por causa de um mutante, Jonas Maguire, de capacidade psíquica
avançada. Ele realiza esse feito para se vingar dos X-men e enfatizar o preconceito
que a sociedade dirige aos mutantes, fazendo-os (os corpos mutantes com as
mentes dos pacientes) comparecerem numa passeata pacífica em prol da união dos
mutantes na sociedade e realizarem atos violentos, contradizendo a opinião dos
simpáticos à causa.
Por
causa de sua ideia absurda, Jonas Maguire propicia um episódio lamentável, mas
que descreve claramente a violência que as pessoas preconceituosas dirigem às
que são diferentes. Os cinco corpos dos mutantes ocupados pelas mentes insanas
do paciente do sanatório, chegam na Escola Xavier para Jovens Superdotados, e
Wolverine se encontra com Jubileu. Ela o adora e o venera, o verdadeiro Logan,
mas fica horrorizada quando ele começa a espancá-la até a morte, o que não
acontece pela intervenção dos outros X-men. Esse tipo de ato, espancamento, é a
violência sendo praticada fisicamente contra a pessoa que é diferente do comum;
o espancador preconceituoso tenta livrar a humanidade dessas pessoas, matá-las,
porque percebem que no íntimo é tão igual a elas, e com medo de ser exatamente
assim, com medo dessa constatação, ele tenta apagá-la.
O
mutante Jonas Maguire além de dar vazão a sua vingança, conferindo poder ao preconceito contra a própria
espécie, ele ainda se delicia com a oportunidade de destituir os mutantes de
seus poderes, aprisionando-os em corpos humanos. Entretanto os X-men provam
que, mesmo sem seus poderes, ainda
conseguem consertar a situação e se manterem éticos, na medida do possível,
pois – e aí o livro apresenta a sua razão de existir – compreendem que não é o
poder que diz quem eles são, mas sim o caráter.
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