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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Livro: X-men - Espelho Negro

Autorreflexo
Por Rodrigo Roddick

Na década de 60, os Estados Unidos passou por uma grave época de racismo. A intolerância racial marcou esses anos com uma violência explícita principalmente contra os negros. Imigrantes também não eram muito bem-vindos no país, e temas como homossexualidade e diversidade sexual não eram discutidos abertamente.

Não foi à toa que em 1963, X-men surgiu. Seus criadores, Stan Lee e Jack Kirby, observaram a necessidade de levantar tais questionamento sociais, intrínsecos em seus superpoderosos personagens.

Depois de muitos anos fazendo sucesso na mídia e nos lares dos fãs, as HQs viraram filmes e a história passou a conquistar mais fãs. Atualmente nota-se que ela está se encaminhando para outra vertente: livros.

Capa -Livro
Em “X-men - Espelho Negro”, escritor por Marjorie M. Liu, o grupo principal de mutantes componentes do X-men (Ciclope, Jean Grey, Noturno, Vampira e Wolverine) acordam sem seus poderes e se dão conta que estão em outros corpos que não os seus. Estão em corpos humanos. Diante dessa situação, eles começam a procurar respostas de como isso lhes aconteceu e descobrem que estão em um hospital psiquiátrico, e que os corpos que habitam são de pacientes com algum problema mental. Receando que seus verdadeiros corpos estão sendo habitados por essas mentes insanas, os X-men iniciam uma jornada em busca deles antes que a situação fique pior.


Além das costumeiras analogias em que X-men discute o preconceito com o diferente (o que rege a saga), em Espelho Negro, se observa uma questão bastante contundente, que parece ser uma vertente na qual se trabalha a cura desse preconceito: e se o preconceituoso estivesse na pele do alvo do preconceito?
A mudança de perspectiva, onde os cinco X-men trocam de corpos com pessoas comuns remete ao destacamento dessa questão, possibilitando que o leitor se coloque no lugar daquele, se for o caso, alvo de seu preconceito e então refletir como se sentiria se recebesse todas aquelas manifestações de violência verbal e física das quais eles são alvos diariamente. Não obstante, ainda constrói a imagem do que aconteceria se esses discursos de ódio fomentados por pessoas preconceituosas tivessem poder.

Realmente, com a mudança de corpos, as mentes insanas são colocadas nos corpos dos mutantes por causa de um mutante, Jonas Maguire, de capacidade psíquica avançada. Ele realiza esse feito para se vingar dos X-men e enfatizar o preconceito que a sociedade dirige aos mutantes, fazendo-os (os corpos mutantes com as mentes dos pacientes) comparecerem numa passeata pacífica em prol da união dos mutantes na sociedade e realizarem atos violentos, contradizendo a opinião dos simpáticos à causa.

Por causa de sua ideia absurda, Jonas Maguire propicia um episódio lamentável, mas que descreve claramente a violência que as pessoas preconceituosas dirigem às que são diferentes. Os cinco corpos dos mutantes ocupados pelas mentes insanas do paciente do sanatório, chegam na Escola Xavier para Jovens Superdotados, e Wolverine se encontra com Jubileu. Ela o adora e o venera, o verdadeiro Logan, mas fica horrorizada quando ele começa a espancá-la até a morte, o que não acontece pela intervenção dos outros X-men. Esse tipo de ato, espancamento, é a violência sendo praticada fisicamente contra a pessoa que é diferente do comum; o espancador preconceituoso tenta livrar a humanidade dessas pessoas, matá-las, porque percebem que no íntimo é tão igual a elas, e com medo de ser exatamente assim, com medo dessa constatação, ele tenta apagá-la.


O mutante Jonas Maguire além de dar vazão a sua vingança, conferindo poder ao preconceito contra a própria espécie, ele ainda se delicia com a oportunidade de destituir os mutantes de seus poderes, aprisionando-os em corpos humanos. Entretanto os X-men provam que, mesmo sem seus poderes, ainda conseguem consertar a situação e se manterem éticos, na medida do possível, pois – e aí o livro apresenta a sua razão de existir – compreendem que não é o poder que diz quem eles são, mas sim o caráter.

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