Reinício Diário Automático
Por Rodrigo Roddick
Como você se sentiria
se acordasse em uma realidade completamente diferente da qual está habituado?
Diante de pessoas que nunca viu? Pessoas que te conhecem, mas você não faz
ideia de quem são? Possivelmente suas respostas a essas perguntas não seriam
diferentes das minhas. Desorientação seria o mínimo a se considerar nessas
circunstâncias. Agora imagine que você morre nessa realidade e depois revive nela,
no exato ponto onde acordou.
Cartaz do filme |
Essa é a proposta do
filme Contra o Tempo (2011), em inglês “Source Code” (Código Fonte), estrelado
pelo atraente Jake Gyllenhaal e dirigido por Duncan Jones. Foi altamente aclamado
pelo público e pelos críticos. O
personagem principal, Capitão Colter Stevens, acorda em um trem onde se depara
com pessoas desconhecidas que, aparentemente, o conhece por outro nome. Em
exatamente oito minutos, o veículo é alvo de um atentado terrorista e explode,
matando todos a bordo. Colter acorda em uma capsula e descobre que faz parte de
um programa experimental do governo que lhe permite reviver, várias vezes, os
oito últimos minutos da vida de um dos passageiros, antes da explosão, na
intenção de descobrir o responsável pelo atentado.
Já nessa ideia se
observa um pensamento genial. Ao reviver a vida de um desconhecido diversas
vezes, repetindo os mesmos acontecimentos, Colter convida o espectador a pensar
sobre seu cotidiano. Sendo claramente uma metáfora crítica da rotina que todos
nós temos, ela nos permite compreender que essa repetição automática e diária
que insistimos em executar é, na
verdade, um programa do governo. Uma
metáfora de nosso sistema. Nesse
caso, nossa vida seria exatamente esta palavra, vida? Seria algo resultante dos
acontecimentos naturais que acontecem interna e externamente a nós enquanto
corpo? Ou seria apenas um somatório de desejos alheios a nossa vontade, quais
nos convencem diariamente que devemos
satisfazê-los? Em troca de quê? Dinheiro. Uma conclusão automática para um
sistema automático.
Cena em que o verdadeiro corpo de Colter é revelado |
Listadas acima estão
algumas perguntas que o filme quer provocar na cabeça do espectador. É
interessante como o governo sempre está por trás dos nossos interesses, o que
nos faz, no mínimo, questionar se o que a gente quer é realmente o que a gente
quer. O quanto do que pensamos é nosso e o quanto é influência de um sistema
que nos quer ver apenas como peças, que ele tem liberdade para usar como
quiser?
Cena do beijo final |
Outro ponto forte é a
questão de viver o que se quer viver, o agora, valorizar o momento, o presente.
Aquele segundo que o filme congela, no beijo entre Colter e Christina é uma
representação desse pensamento.
Contra o Tempo também
trata da existência da realidade paralela, da recriação do tempo já vivido, o
oportunismo dos gananciosos que visam o lucro das inovações tecnológicas, e o
verdadeiro poder do ser humano. Colter consegue mudar sua realidade, mesmo
sabendo que é impossível, e quebra o ciclo temporal recriado, construindo uma
vida paralela à qual é criada para si. Esse é o presente deixado pela trama: mesmo
que se acredite na ideia de destino, o ser humano tem o poder de criar um alternativo,
e que esse poder sempre foi exclusivamente seu, e, do mesmo modo, arrancado de
si.
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